sexta-feira, 2 de setembro de 2011


Greve e parasitas: breve aula interdisciplinar

Jornal O povo 
Opinião: Márcio Kleber Morais Pessoa
Sociólogo

A categoria dos professores, nos últimos meses, decretou greve em vários municípios e estados. Pergunto-me o motivo pelo qual essa categoria age assim, visto que recentemente o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou o piso salarial da categoria. Será que há algo de obscuro na intenção dos governantes em “garantir” esse piso nacional?

Para responder a essa pergunta devo, primeiramente, me reportar à história recente desse país. Vejamos: antes da promulgação da Constituição Federal, em 1988, a educação escolar era um direito do cidadão, mas ainda não era obrigação do Estado, o que mudou após a aprovação daquele texto. Assim, quem estava fora da escola pôde finalmente ingressar através de seus muros...

Mas quem estava fora da escola até 1988? Os filhos dos ricos e da classe média, ou os da classe trabalhadora? Dessa forma, os pobres passaram a frequentar a escola mantida por recursos públicos. Aqui necessito destacar que “recursos públicos” não necessariamente significa “dinheiro do povo”, pois esses recursos são geridos por “meia dúzia” de pessoas que, em sua maioria, pertencem e defendem interesses de classe... De sua classe social, e, não, o tão discursado bem comum. Logo, os recursos públicos podem ser direcionados para atividades que não têm qualquer interesse ou prioridade da população em geral, como a construção de um aquário “para gringo ver” e outras várias obras que beneficiam grandes empreiteiras e empresários, em detrimento da oferta de salário digno aos profissionais da educação e outras benesses para a educação escolar.

Mas, e a luta dos professores é coerente? Acho que a contextualização realizada acima nos ajuda a compreender isso: qual o interesse de um governante oferecer educação de qualidade aos pobres, a maioria da população? Por qual motivo um político que se reproduz no poder através das gerações se beneficiando da falta de informação e criticidade do povo iria buscar garantir que esses indivíduos pudessem refletir e compreender as relações de poder existentes na sociedade e, assim, passar a utilizar o voto como uma arma contra políticos corruptos e desonestos que vivem parasitariamente às suas custas?Com isso, compreendo que a luta dos professores é legítima, pois quem frequenta as escolas públicas se depara com uma realidade chocante: salas superlotadas, falta de profissionais, professores com dois ou mais empregos devido aos péssimos salários (o que atrapalha o planejamento, os estudos, etc.).Ademais, as reformas nos PCCs propostas pelos governantes não estimula o professor a se qualificar, como é o caso das propostas do Governo do Ceará e da Prefeitura de Fortaleza, o que, a meu ver, significa dizer que os pobres não têm direito à educação de qualidade, a professores bem qualificados. E ainda tem governante falando que os professores não querem dialogar, mas “esquece” de dizer que diálogo sem condições iguais de poder nada mais é do que “conversa fiada”.


Nenhum comentário:

Postar um comentário